R. Trompaz, nasceu e cresceu em São Paulo. É artista visual, designer e ilustrador. Graduado em Design Gráfico pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Trompaz utiliza a arte (pintura, desenho, ilustração) como meio de expressão e crítica social, dando voz às camadas menos favorecidas, através do projeto Segregação Social Geograficamente Escancarada (SSGE).
Como é que chegou à arte e quando?
Meu primeiro contato com a arte foi relativamente cedo, pois nesta época, eu estava há uns dois anos cursando o ensino fundamental. Foi em um curso que pertencia a Ação Comunitária do Brasil, no mesmo era ensinado desenho, pintura, artesanato, interpretação de texto, capoeira etc. Foi um divisor de águas, uma nova possibilidade de caminho que até então eu desconhecia. O fato de ter alunos mais velhos no curso, foi o que me motivou a acreditar que era possível evoluir no desenho. Estes alunos se tornaram uma referência viva pra mim naquele momento. E devido ao desempenho que tive aos olhos da professora e dos alunos, fui escolhido para estudar desenho aos finais de semana no MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia.
O que é que fez clique na sua mente para decidir seguir o caminho da arte?
No primeiro momento, acredito ter sido por conta da experiência de ver muitos desenhos e pintura na infância, consequentemente o início das minhas práticas e o apoio impecável da minha mãe, que inclusive me apoia muito até hoje.
Quais os artistas que o influenciaram e porquê?
Minhas referências sempre foram musicais, sempre foram baseadas nas letras de músicas, sobretudo RAP brasileiro, sobretudo o grupo Racionais MC’s. Portanto, o estudo da sociologia veio muito cedo. Residir no extremo e atravessar a cidade em direção aos bairros mais estruturados/sofisticados sempre me chamava atenção, e eu passei a infância inteira me fazendo perguntas sobre questões sociais, sobre moradia, sobre a diferença gritante de um bairro para o outro. A minha pesquisa artística começou ali, mesmo eu ainda não sabendo que seria algo acadêmico e pra vida inteira. Os meus traços tem muita relação com a arte nos muros dos considerados marginalizados de São Paulo, aqueles que escalam prédios para protestar, ocupar e existir.
O que me pode dizer sobre Jean-Michel Basquiat?
Na minha concepção, é um dos melhores que temos, pois ele jamais vai deixar de existir. Expressão e sentimento contido nas obras que inspirará gerações e gerações.
Explica-me o que expressas no teu trabalho?
O figurativo é sempre presente nas minhas pinturas, mesmo sendo abstrato para o espectador. São vários signos que fazem parte do meu cotidiano, é a forma que eu enxergo a minha cidade, e também outros estados e países. É o meu abecedário próprio, é falar de problemas antigos com signos contemporâneos. A minha linguagem é visceral e metafórica, a pintura é de coração, e é sempre baseado na indignação com contexto social, com políticas publicas, com desigualdade principalmente levando em consideração precariedade de residências. Por isso intitulei o meu trabalho de SSGE (Segregação Social Geograficamente Escancarada)
Porque é que escolheu este estilo de pintura?
Penso que a minha pintura é consequência da minha vivência, ela se dá conforme a minha vida segue. Não é muito proveniente de padrões acadêmicos (nada contra as que sejam), ela é na maioria das vezes livre, gestual, solta, sem muitas amarras, exatamente do jeito que eu levo a vida.
Como foi a tua experiência na segunda Trienal de Tijuana e que obras te marcaram?
Foi a minha primeira participação na Trienal de Tijuana, e também a minha primeira vez na cidade. A estrutura do CECUT é muito boa, a montagem e curadoria também me agradou. Muitas obras me marcaram, porém eu não gravei o nome destes artistas, a única que posso dizer é a Regina Silveira. De modo geral, as instalações estavam todas muito boas, e algumas pinturas em grande escala me chamaram atenção também.
Tem algum projeto ou exposição em breve?
Já faz muito tempo que venho produzindo obras da pesquisa SSGE, e é um projeto que pretendo seguir estudando por muito tempo. No dia 9 de agosto, participo do 49° SARP – SALÃO DE ARTE DE RIBEIRÃO PRETO NACIONAL-CONTEMPORÂNEO (São Paulo, Brasil) e no dia 10 de agosto, abro a minha exposição “Jornal do mundo” na galeria Martins&Montero (São Paulo, Brasil).
R. Trompaz (Brasil)
SSGE, 2023
Pigmento em pó com verniz e tinta acrílica sobre tela
Uma bandeira do estado de São Paulo (Bra sil), colocada verticalmente, foi usada como suporte para a obra, que foi pintada de preto, com a sobreposição de outras cores.
Ela faz alusão à segregação social no Brasil, que está diretamente relacionada à destruição do meio ambiente, uma vez que a falta de acesso à moradia digna para grande parte da população pobre leva, consequentemente, à construção de casas em espaços inadequados, como encostas de morros, áreas de preservação ambiental.
A posição do emblema nacional também aponta para a verticalização urbana desenfreada de São Paulo, que traz sérias consequências, como a redução de áreas verdes, a degradação do solo, o aumento da poluição, entre outros aspectos.